Como
a água, a luz tem um significado forte na liturgia. Luz é sinal de vida, de
alegria, ela dissipa as trevas da noite, é símbolo da própria presença de
Cristo. O relato do evangelho de hoje tem também forte conotação batismal: o
gesto de Jesus de fazer lama com a saliva e colocá-la nos olhos do cego lembra
a criação do homem do barro e a unção com o óleo, e o lavar-se na piscina
simboliza a água com a qual se batiza. O relato não deve ser tomado como “milagre”,
mas é um “sinal” – como o próprio evangelista o define – que faz um apelo à fé
em Cristo e aponta para as exigências do reino de Deus.
Neste
relato, temos dupla progressão: a do cego, que passa das trevas à luz, e a das
autoridades, que se deixam envolver cada vez mais pelas trevas. A iluminação do
cego é um homem (v. 11), é um profeta (v.17), procede de Deus (v. 33) e é
Senhor (v. 38). Em contrapartida, a cegueira progressiva das autoridades, que
resistem a compreender e não querem ver: estão divididas, mostram-se cheias de
certezas, recorrem ao insulto e, por fim, à expulsão.
O
texto descreve o caminho interior que toda pessoa pode trilhar até encontrar-se
com Jesus, luz do mundo, e – após ser iluminada por ele – se comprometer com
seu projeto. O caminho se iniciou com a cura física; depois, aos poucos, o “cego
curado” vai aderindo a Jesus.
Diz
o ditado que “o pior cego é aquele que não quer ver”: este, nem um milagre
consegue transformar. Curar o cego foi relativamente fácil para Jesus; o mais
difícil é curar as autoridades que dizem ver bem, mas continuam obstinadas na
sua cegueira e hipocrisia. Difícil é mudar a visão daqueles que têm solução
para todos os problemas, que privilegiam o “código” em detrimento da vida, que
detêm o monopólio da verdade, que utilizam seu saber para desprezar sempre mais
os grupos discriminados.
Fonte:
Pe. Nilo Luza, ssp – Editora: PIA SOCIEDADE DE SÃO PAULO (PAULUS) – O DOMINGO,
MISSA DO 4º DOMINGO DA QUARESMA
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